SEMIDEUS


deus veio pela metade!
você chegou meio manco,
meio ferido,
meio bandido,
meio o que costuma ser.
tua mania divina
de fazer-me ventricular anormalmente,
manualmente,
quase que bombeando a dedos
o nosso meio coração.
e tuas unhas lascadas arranhavam-me as artérias
e faziam cócegas suaves em cada célula,
que percorriam-me em gargalhadas.
gostava do jeito que você tirava de mim as vírgulas,
e da forma artesanal que fazia delas lindos espirais
abstratos.]
de quando íamos colher cantos de pássaros no jardim,
e principalmente de lhe observar desfiando as notas
melódicas do bem-te-vi para montar lindas canções.


deus ficou pela metade!
antes de ser parcela,
foi inteiro,
ritmado,
sorria com todos os dentes,
costumava voar dentro de mim,
pousava no alto,
na áurea.
roxa, vermelha, azul
mudava o meu tom, adjetivo e predicado.
shh!
que silêncio bonito era o dele
às vezes eu pensava que meus ouvidos tinham calado
de tão mudo que ele se fazia,
mas quando eu começava a (des)compreendê-lo
ele legendava-se,
e traduzia-se
em mil faces e palavras.
tinha cheiro de incenso de alecrim
e gosto de falta,
mas não faltava,
antes ele era inteiro,
pudera fosse somente meu paladar
prevendo seu meio-futuro-meio-dividido.
como se tornou metade?
ninguém sabe!
talvez eu apenas tenha varrido a sua outra parte
pra fora de mim.


Frederico Brison.

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