FOI-SE


fez de mim a voz da noite,
quando seus braços ainda eram curtos
pra alcançar meu coração.
recordo-te do lado detrás destes nossos dias,
quando ainda haviam dias nossos,
e qualquer mentira fazia-se ausente
da mente que possuías.
tua chegada era primícia,
tudo o que era som tornava-se calado,
e teu grito na posse de mim,
era o silêncio rascante mais bem preservado.
tu era versículo proibido,
de vocábulo imundo,
segregado no batismo carnal
em que foi navalhado pela misericórdia
banal das minhas suplicações por ti.
era dono da vida que tinha,
cometia seus crimes no sigilo da sombra da lua,
eu era o seu maior delito,
roubava dos meus lábios tudo o que pudesse carregar,
tornava-me habitante do seu âmbito infinito,
um recôncavo descomunal e secular,
que guardava dentro de si um buraco vazio,
de onde vinha todo grito insensato,
que nas madrugadas clamavam
pela distração da falta que tinha.
era senhor da morte dos outros,
era a foice afiada que levava os últimos suspiros
daqueles que encantados rendiam-se em promessas
e juras que tinham eternidade curta.
era o passado de um presente atrofiado,
enfeitado com sorrisos que se fecham na ausência de olhos.
era tudo o que eu quis quando ainda éramos,
era tudo o que queriam aqueles que como eu, o tinham.
era um, pra gente demais.


Frederico Brison.

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